Educadores e entidades repercutem matéria
de O Poti sobre as graves estatísticas do ensino escolar no RN.
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A Profª Amanda Gurgel repercutiu reportagem nas redes sociais | | | |
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Ainda repercute, nas mídias sociais, a reportagem da última edição de O
Poti sobre a situação do Ensino Médio no Rio Grande do Norte em que a
secretária Estadual de Educação, Betânia Ramalho, afirma que, dentre
outras causas do problema, a greve de mais de 80 dias dos professores da
rede estadual provocou desestimulo e desmotivação, levando muitos
alunos a abandonarem a escola.
A reportagem de O Poti publicou
estatísticas do Censo Escolar e do Instituto Brasileiro de Estatísticas
(IBGE), revelando que cerca de 19% dos estudantes abandonam o EM e mais
de 56% das pessoas com 10 anos ou mais possuam somente o ensino
fundamental.
A
profª Amanda Gurgel encaminhou carta à redação do Diário de Natal,
repercutiu o assunto no Twitter e publicou em sua blog a sua revolta
com as declarações da secretária culpando a greve dos professores pelo
problema da evasão. Da mesma forma, a presidente do Sindicato dos
Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte, Fátima Cardoso,
publicou sua opinião no site do Sinte, elogiando a matéria e
demonstrando indignação com as declarações da secretária. Para
completar, a coordenadora do Instituto de Desenvolvimento da Educação
(IDE), Cláudia Santa Rosa, também emitiu sua opinião.
Segundo a
professora Amanda Gurgel, foi revoltante a explicação da secretária
estadual de educação sobre o fato." Na verdade, o governo é o verdadeiro
responsável pela evasão escolar no RN. Não admito que governo algum
desmoralize a nossa luta em defesa da educação pública, utilizando-a
como justificativa para a sua própria incompetência, ingerência e
indiferença em relação aos problemas denunciados em nossas greves". diz
Amanda em seu artigo. A professora, que ficou conhecida em 2011 por
denunciar o abandono da educação durante uma audiência pública na
Assembleia Legislativa, e ter conquistado as mídias sociais com mais de 1
milhão de acesso no Yotube, também apresentou em seu texto quais as
razões que realmente levam os estudantes a desistirem da escola.
Rodízio
Para
ela, há muitas escolas no RN em que os alunos do Ensino Médio têm
apenas dois ou três dias de aula por semana porque a direção se
desdobrar para contornar o caos fazendo rodízio de turma por falta de
professor "Se fizermos um cálculo rápido, vamos perceber que essas
pessoas assistem a, no máximo, 144 dias de aula por ano. Uma vergonha",
denuncia a professora. E completa: "Agora eu pergunto: que estudante
pode se sentir estimulado a frequentar uma escola em que não tem
professor de Português, de Química ou de Matemática, estando às vésperas
do vestibular?". De acordo com Amanda Gurgel, as pessoas desistem de ir
à escola porque não estão com a vida ganha e não têm tempo a perder
brincando de ir à escola. "Os alunos desistem de estudar porque veem os
seus professores receberem um salário que eles mesmos podem receber como
qualquer trabalhador autônomo".
Amanda encerra o artigo acusando
o governo de Rosalba Ciarlini (DEM) de fazer um boicote ao ensino
público e de mentir sobre os verdadeiros responsáveis pela evasão
escolar. "As pessoas desistem de estudar porque o governo do estado faz
um boicote ao ensino público. Depois, cobra que sejamos os redentores e
redentoras do país. Com um quadro caótico desses na educação, dizer que a
evasão escolar é culpa da greve dos professores é mais do que uma
mentira, chega a ser uma "provocão", conclui Amanda.
Sindicalista elogia abordagem
A
presidente do Sinte/RN, Fátima Cardoso, disse que a expressão "Ensino
Médio na UTI", utilizada pelo repórter, não poderia ter sido empregada
de forma melhor. "Desde 2000 o RN tem sido o lanterninha nos resultados
das provas de matemática e de língua portuguesa. E o que foi feito para
resolver a situação? Nada.", disse ela. As condições precárias de
trabalho são denunciadas constantemente pelo Sindicato e por toda a
comunidade escolar, no entanto, o quadro se repete indefinidamente. O
Governo não reconhece, por exemplo, que uma escola que só oferece quadro
e giz não é, de forma alguma, atrativa o suficiente para manter o
estudante lá", avalia a dirigente.
Para a sindicalista, uma
sociedade que se reconfigura com a utilização de mídias sociais, da
banda larga, da internet móvel, exige dos gestores uma nova visão sobre o
ensino. "Não se pode conceber um modelo de ensino como o que se tinha
há décadas atrás. Os tempos mudam e é preciso que a escola os acompanhe.
Como poderemos ter um currículo atrativo, se não temos uma infraestrura
mínima para poder envolver os alunos".
Educadora aponta baixa autoestima
Já
a educadora Cláudia Santa Rosa, coordenadora do Instituto de
Desenvolvimento da Educação (IDE), a greve é simplesmente um dos
problemas diante de uma diversidade de questões que precisam ser
analisadas, até porque ela realmente é prejudicial para todo mundo e
para todas as etapas de escolaridade. Mas para ela, um grande problema
que leva os alunos a abandonarem os estudos no ensino médio é a baixa
autoestima, diante do acúmulo de dificuldades de toda trajetória
escolar. "Quando chegam ao ensino médio, eles se acham incompetentes
para fazer o vestibular e não vislumbram uma trajetória acadêmica e,
preferem ingressar no subemprego do mercado de trabalho".
Para
Santa Rosa, o problema da falta de autoestima é decorrente da
desmotivação na escola, fruto da falta de professores, greves, baixo
conteúdo assimilado no ensino fundamental, levando para o resto da vida
as dificuldades de aprendizado. "Enquanto isso, lá fora o mundo está
pulsando de novas tecnologias e quando se olha para dentro da escola,
muitas delas até têm equipamentos mas não foram instalados por falta de
verba para isso. Há escolas que têm laboratórios inteiros completos, mas
nunca foram usados os equipamentos porque não há recursos para
instalação", explica ela.
Cláudia critica que a própria
secretaria comemorou, com ênfase, os baixos índices de reprovação, mas
esqueceu de revelar os de evasão. "Ora se os meninos estão se evadindo,
quem fica logicamente que não vai ser reprovado. Na hora que têm índices
de evasão e índices baixos de reprovação, conclui-se que eles estão se
evadindo antes de terminar o ano e evitando, é claro, de serem
reprovados. Por isso, as nossa taxas de evasão são altas e baixas de
reprovação. Não podemos comemorar exceções, precisamos que o sucesso
seja a regra e não a exceção ", afirma.
Reportagem publicada no Diário de Natal - Edição de Quarta-feira, 13 de junho de 2012.
NOTA DO BLOG: Enquanto ficarmos de braços cruzados esperando o trem passar, nada vai mudar. É hora de agirmos e já. Temos que defender a escola pública, custe o que custar. E a nossa escola já está vivendo essa realidade. É hora de acordar antes cedo do que tarde.